domingo, 2 de fevereiro de 2014

Sonhos Adiados / Sonhos Retomados

Quem me conhece intimamente, sabe que um dos meus sonhos de menina era ser mãe. Isso era ponto assente. E o sonho era sempre acompanhado pela vontade de ter não um, mas dois filhos (e adoptar um terceiro). Chegavam 3, portanto!...

A vida foi passando e as suas vicissitudes fizeram com que só já na casa dos 30 tivesse as condições para poder fazer esse sonho seguir em frente. E assim foi. Casamos a 22 de Maio de 2010 (outro sonho de menina), num solarengo e lindo dia de Primavera e desde aí que começámos a tentar ser pais.

O tempo passou e a certeza que algo não estava bem instalou-se na minha cabeça. Sou mulher lutadora, de enfrentar os problemas de frente, "pelos cornos", e por isso, bem cedo me fiz à estrada para perceber o que se passava. Fiz bem, pois depressa recebemos o diagnóstico de infertilidade masculina primária.

Talvez porque sempre foi um sonho de menina, que foi continuamente calado e adiado, esta novidade foi devastadora e passei algum tempo até aceitar internamente o que vivíamos. Mas não fiquei a chorar sem fazer nada. Pelo contrário. Iniciámos a luta dos tratamentos de infertilidade no mês seguinte ao diagnóstico.

Felizmente, foram "apenas" precisos 3 tratamentos, ou 2 ciclos de tratamentos (ICSI+TEC e nova ICSI) para conseguirmos o nosso Afonso. As dificuldades não acabaram aí e foi complicado e doloroso até ao 5º mês de gravidez. Mas isso já está relatado no iniciozinho deste blog.

Os primeiros meses de vida do Afonso, entre todo o Amor e tudo o resto, foram também vividos por mim nessa ansiedade de não saber se algum dia poderia repetir aquela experiencia extraordinária, maravilhosa. E então virei animal e não deixei que mais ninguém cuidasse do Afonso sem ser eu (ou o meu marido).

A infertilidade mina muito mais coisas do que a capacidade de conceber... Vive connosco e impregna-se-nos na pele, na existência.

Depois veio a vontade de ter outro filho que, em conjunto com as vicissitudes da vida pratica, conduziuà necessidade de conseguir engravidar de novo até Março deste ano, para conseguir garantir acesso a licença de parentalidade (depois acaba a bolsa de doutoramento que me sustenta e fico desempregada e a ter que correr caminho à procura de trabalho - sou uma precária, uma dessas cientistas investigadoras sem lugar neste País, de que tanto se falou este mês).

Mas novamente a vida e a natureza me pregaram uma partida e rasteira e desta vez é o meu corpo que não quer colaborar: o período não há maneira de vir e assim, retomar o ciclo fértil.

Assim, há uns meses sentámo-nos a falar e decidir se desmamávamos forçadamente o Afonso para podermos seguir com o sonho de ter outro filho, ou se aguardávamos. E o meu marido, que é um homem muito sensato, disse-me que achava melhor não forçar o desmame, senão arriscavamo-nos a tirar algo que o Afonso tanto gosta (e que a própria OMS recomenda que tenha até pelo menos aos 24meses), e não conseguirmos engravidar (recordar que os tratamentos têm uma taxa de sucesso de cerca de 25-30%...). E isto fez-me todo o sentido. Tirar algo que me custou tanto conseguir, e que tanto prazer nos dá, de momento, para tentar algo cuja maior probabilidade é de não ser logo à primeira (e desta vez só ha €€ pra um...) não faz muito sentido...

E assim adiámos o sonho e decidimos relaxar e deixar o tempo passar até aos 24 meses do Afonso e aí de novo reavaliar.

Entretanto, ele tem 17 meses e por aqui não ha qualquer sinal de ciclo fértil! Extraordinário!...

Talvez por isso, por estar a adiar um sonho de menina, desta vez a minha decisão de cuidar de mim e de ter uma vida mais saudável esteja aqui presente a 100%, sem deslizes, sem maus humores, sem hesitaçoes... Larguei um sonho de menina, para agarrar o derradeiro sonho de menina ainda não concretizado.

E desta vez, daqui a um ano, quero ser objecto de admiração e apreciação na minha família. Quero ter orgulho de mim e ganhar uma nova vida, um novo sorriso.

E, quem sabe, ter esse sorriso acompanhado de um teste de gravidez positivo? (não desisto do sonho de conseguir uma gravidez de forma natural!)...

Os sonhos existem para lutarmos por eles e para chegarmos a velhinhos com a certeza que fomos fiéis a nós próprios e lutámos por NÓS. Mais ninguém o faz!

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