sábado, 22 de fevereiro de 2014

O trabalho e os filhos

Nos últimos dias, especialmente ontem, tive a oportunidade de experimentar um pouco do que as famílias, as mães trabalhadoras, no sentido comum da palavra, vivem.

Uma das coisas que é muito falada na psicologia do desenvolvimento e da educação, e que é muito transmitida e trabalhada com os pais, é a importância da qualidade do tempo com os filhos, da importância de ter, nem que seja, 10 minutos por dia com os filhos, SÓ com e para os filhos, sem tv, sem Tablet, sem telefone, mail ou sms. "Só" os filhos.

Confesso que esta questão sempre me fez espécie!  "SÓ 10 minutos???" Sempre me foi bastante óbvio que 10 minutos é pouquíssimo e que as crianças (e quero acreditar que os pais também!!) precisam de bem mais do que isso para estarem bem e serem felizes!...

Mas ontem pude finalmente sentir e perceber porque é que se diz e trabalha tanto isso! A importância que tem, porque é tão fácil deixar a vida es obrigações tomarem as rédeas das nossas vidas e, às tantas, estamos a ser arrastados por elas e não a cavalgar livremente, no comando desse percurso que é a vida!...

Ontem tive que ir deixar o Afonso com a avó de manhã. Foi uma correria para ter tudo pronto, cuidar de tudo e chegar ao barco a tempo das minhas obrigações em Lisboa. Depois passei o dia todo em Lisboa e pelas 17:40, saía esbaforida ISPA fora, para tentar apanhar o barco das 17:55 e ir ver o meu filhinho, de quem morria de saudades, mas sobretudo a tempo que o marido conseguisse ir para o seu segundo trabalho, no politeama. Então foi chegar ao Barreiro e percorrer rapidamente o trajecto dos barcos aos meus sogros, que, usando a aplicação de corrrida que costumo usar, fiquei a saber que é de 1,5kms [só em caminhadas rápidas ontem fiz mais de 4,5km!!]. FINALMENTE filhinho!!! Foi logo dar "Mimis" enquanto esperavamos pelo meu marido para irmos para casa. Ele ainda demorou e quando chegou estávamos no limte do tempo para conseguir ir para casa e ele para o trabalho. Lá fomos o mais rapidamente possível e eram 19:10 quando entrei em casa com os sacos e o filhote. A esta hora geralmente já estamos a jantar, para depois ir ao banho, se for dia disso e caminha pelas 20/20-e-pouco...

Tudo por fazer e arrumar, já muito tarde e ainda não tinhamos tido um bocadinho só nosso, de relaxe e simples sensações de estarmos juntos, aproveitando a companhia mútua....

Mas tinha tanto que fazer!!... Cozinha com ela, preparar o jantar e o filhote entre a sala e a cozinha, brincando sozinho. Entretanto fui arrumando os sacos e as coisas. E quando tinha o jantar a cozinhar, tinha duas opções: tratar da roupa - tira da máquina, dobra, põe nova máquina a fazer - ou sentar com o filhinho no tapete dele e durante aqueles 20min brincar com ele, abraça-lo, cheira-lo, mira-lo, etc...

Mandei a roupa à fava (agora não sei como vou conseguir ter a roupa pronta até 3a, mas logo se vê!!) e fui estar com o pequenino.

Depois lá jantamos, fizenis a nossa rotina, depois do banho, ja na cama, explorámos o livro favorito dele, fazendo os sons de todos os animais possíveis e imaginarios e... Dormir!

Eram quase 21:45 quando consegui ir fazer exercicio e tomar banho e claro q a cozinha ficou de pantanas e a roupa por tratar... Mas pelo menos conseguimos estar juntos uns bocados bons e compensar em parte o afastamento tão longo de ontem e anteontem!...

E com tudo isto, percebi o que é a vida de tanta mulher-mãe... Pensei nas que têm horários ainda maiores que os meus, 5 dias por semana, pensei nas que têm mais do que um filho e uma casa inteira sozinhas para cuidar. Pensei em tudo isso e compadeci-me.  Como está tãomal organizada esta vida moderna, em que somos obrigados a correr, a ignorar e abandonar os nossos filhos, abalroados pelas obrigações, pelas necessidades!....

E fiquei com uma certeza: não é essa vida que quero para mim - não ia aguentar, não ía ser minimamente feliz! - nem agora, nem quando terminar o doutoramento... Não fui feita para isso, não tenho a capacidade de aguentar essa vida...

E resta-me o medo do que será o próximo ano, quando terminar a bolsa, bem como o pensamento sobre qual a qualidade de vida que conseguirmos ter neste País que tem vindo a regredir mais de 30 anos em tantas areas fundamentais,   pelas quais tanta gente tanto lutou e abdicou, pelas quais o meu pai esteve na clandestinidade e a minha mãe foi presa e torturada ao ponto de haver uma rua, um edifício em Lisboa, onde dificilmente consegue ir ou passar em frente!... (agora já destruiram isso tb, e passou a ser um condomínio de luxo...).

Mas tudo isto é matéria para outras escritas!...

Hoje queria deixar estas reflexões e sentires sobre a vida moderna das mulheres-maes-trabalhadoras, sobre como se veem obrigadas a esmagar dentro de si tanta coisa, para "fazer-a-vida-familiar-seguir-em-frente"!....

(se encontrarem muitos erros, estou no telefone a escrever, peço desculpa - assim que puder passo no computador a rever o que escrevi!)

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