segunda-feira, 26 de maio de 2014

Pequenas (Grandes) Mudanças Internas

Lembro-me perfeitamente do primeiro dia em que olhei para um espelho e tomei consciências das minhas formas, da minha cara, da minha aparência. Não me refiro ao primeiro dia em que percebi que a imagem do lado de lá era a minha, mas sim, alguns anos mais tarde, naquela primeira vez em que nos apercebemos de nós mesmos e, necessariamente, nos avaliamos. 

Eu era muito nova. Não sei precisar a idade, mas era mesmo mesmo mesmo uma menina. E lembro-me da imagem que vi e do sentimento que senti e do pensamento que me veio à mente: "Sou mesmo feia!". Como psicóloga clínica, sei hoje interpretar tudo isto de outra forma e percebo muita coisa sobre mim, nessa altura e posteriormente. Mas na altura não. Era apenas um sentimento e uma ideia. 

E isso acompanhou-me por muitos anos. Muitos mesmo. (Até hoje?). Consegui mudar muita coisa, nos anos de terapia. Consegui aprender a conhecer-me, transformar-me, aceitar-me, amar-me. Mas fisicamente não. Nesse aspecto nunca consegui aprender a respeitar-me, aceitar-me e amar-me.Olhar para o espelho nunca foi algo prazeroso, nem na adolescência, quando passamos horas olhando, mirando, vestindo e despindo roupa. Olhar para o espelho foi sempre um exercício doloroso, de mau-trato pessoal. Até hoje.

Curiosamente, recentemente, no topo dos Kgs ganhos depois dos anos de depressão, desleixo, dos tratamentos de infertilidade e, finalmente, gravidez, ao olhar para fotos em que na altura o meu pensamento sobre mim era esse mesmo (feia e gorda), dei comigo a pensar: "És mesmo tola! Tu até eras bonita! Mesmo um bocadinho gordinha, nem sequer eras gorda, gorda.... Não soubeste mesmo cuidar de ti e apreciar o que tinhas!". E a pensar: "Se algum dia conseguir perder peso de novo, hei-de aprender a respeitar-me, aceitar-me e amar-me, como nunca fiz até hoje." Daí, o pensamento evoluíu para fazer isso, INDEPENDENTEMENTE de conseguir perder peso. Excelente! E comecei o processo de cura, de autoaceitação.

É mesmo um processo, um longo caminho. Sinuoso, com curvas, buracos, quedas, lutas e suores...

Nesse caminho, acabei por conseguir mesmo perder 12Kg, devagar, devagarinho. Primeiro 3kg ao longo de um ano, no ano passado. Depois os 9kg restantes, desde Janeiro até hoje. Ainda não estou magra, ainda não estou sequer no meu peso ideal/saudável (para entrar nessa banda, preciso perder mais 0,5Kg). Ainda dou comigo, ainda que 12Kg mais leve e uma série (muitos) de cm a menos em volume corporal, ainda que vestindo roupa que não vestia há anos (e não sonhava voltar a vestir), a pensar quão gorda sou, quão feia sou. Farto-me de cair nessa armadilha. Farto-me de falhar comigo mesma. De me maltratar. 

MAS queria também registar as pequenas(?) vitórias. Para mim são GIGANTES! E são, acredito, indicadoras de ENORMES mudanças que estão a ocorrer dentro de mim ao longo deste ano....

Ontem dei comigo (e a recordar que me havia acontecido o mesmo há uns dias), a olhar para o espelho e, pela primeira vez, a não ter o primeiro sentimento, de repulsa. Olhar e sentir prazer. Olhar e gostar. Olhar e apreciar. Gostava de FRISAR que quando falo em olhar para o espelho, não me refiro a uma imagem corporal, ao corpo todo, mas simplesmente olhar para a cara. Refiro-me também a um olhar e a um sentimento não demorado, mas antes a esse primeiro impacto de quando se olha. Aquele breve, curto, fugaz primeiro segundo que nos imprime dentro de nós um sentimento, uma marca. A repulsa por mim mesma, começava nesse primeiro instante, logo pelas minhas feições. E a isso juntavam-se as demais ideias e sentimentos sobre o corpo.

E assim sendo, não são os Kgs perdidos que fazem diferença (embora a cara mude, as feições não se transformam radicalmente a esse ponto e, na verdade, já estive mais magra que agora e o sentimento era esse negativo), nem fiz qualquer tipo de operação plástica à cara, nem rejuvenesci. Nada. Nada pode explicar este ADMIRAVEL sentimento novo, de olhar-me e gostar-me. 

Nada, a não ser profundas mudanças em mim, sobre mim mesma.

Sei que tudo isto ainda é frágil e que logo de seguida começo a enumerar e apontar os defeitos, as coisas que não gosto, as curvas, as flacidezes, as peles, as rugas, as estrias, as cicatrizes. Enfim, tudo o que me desgosta em mim. 

MAS, ainda assim, fica cá dentro de mim registado estes primeiros momentos em que em vez do desprazer, houve lugar ao positivo. Isso ninguém me tira! E é cá uma conquista que não conseguirei jamais explicar! 

É uma vitória contra mim mesma!

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